sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Governador cibernético

Por Archibaldo Antunes*
Sou um sujeito de idéias naturalmente antipáticas e não me esforço para agravar esse defeito. Mas às vezes as circunstâncias me impedem de resistir aos meus princípios. E é então que emerge em mim esse serzinho rugoso e ranzinza que, apoiado em sua bengala de pau-mulato, passa a imprecar contra toda e qualquer demagogice estatal.

Hoje esse velhinho mal-humorado, o meu Lunga particular, não suportou matéria do jornal Página 20 (aqui) e se pôs mais birrento do que nunca.

Diz o texto do diário que o governador Binho Marques, ao lançar o “floresta digital”, afirmou que o Acre nunca mais será o mesmo. Ai, meu saquinho! A cada iniciativa, por mais comezinha, essa gente vai logo falando em revolução e exemplo para o país e o mundo. São os "cavaleiros da triste figura", e também como Dom Quixote de La Mancha vivem de duelar com moinhos-de-vento pensando se tratar de gigantes.

É cansativo ouvir o mesmo discurso por doze anos seguidos. A iniciativa de oferecer internet grátis à população é importante, sim, mas não vai tirar o Acre do buraco, nem amenizar a criminalidade ou constranger a miséria que campeia na periferia.

Internet grátis é para quem já tem computador, e quem possui um já superou o estágio em que dezenas de milhares se encontram todos os dias, tendo de conviver com a lama nas canelas e a barriga vazia.

Isso deixa claro que o governo de Binho Marques é não apenas elitista como boçal. E querer temperar essa boçalidade com a falsa idéia do milagre repentino torna ainda mais irritante a pantomima.

Por que não tratar o “floresta digital” simplesmente como uma iniciativa governamental de caráter útil, ao invés de tentar vender a falsa idéia de que ela nos colocará no topo do mundo? Se não for por pura desfaçatez, será por excesso de má-fé.

Quero terminar fazendo uma referência ao Diário Oficial do dia 18 de janeiro deste ano, no qual o governador assinou decreto para abertura de crédito suplementar. Ali foram destinados à Secretaria de Estado de Habitação de Interesse Social (Sehab), o montante de 60.010 reais. Uma ninharia, se levarmos em conta o déficit habitacional do Estado.

No mesmo documento, o governador destinou à Secretaria de Estado de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia (SDCT) nada menos que meio milhão de reais.

É uma diferença e tanto para um Estado paupérrimo, cujos governantes são finórios o bastante para pretender uma integração ao Primeiro Mundo através de uma “ponte digital”.

Mas o problema dessa ponte é que ela não serve nem para abrigar da chuva os sem-teto que existem aos montes por aí.

*Archibaldo Antunes é jornalista e escreve para o blog Contraponto

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