segunda-feira, 26 de abril de 2010

A dura realidade do Acre dos sonhos

Ray Melo*

Nos últimos dias, as maravilhas do Acre, tão cantadas em prosas e versos pelas administrações petistas vem sendo duramente criticadas pela poderosa Rede Globo. Não se sabe por que a emissora resolveu abrir o baú, mas o certo é que o Acre de tantos modelos e exemplos para o mundo, não é bem aquela maravilha que os pregadores da economia sustentável pregam.

Em outros tempos, poderia até se dizer que era manobra da oposição, mas já ficou provado que quando se trata de articulação, a oposição não se junta, nem se cheira. Então fica totalmente descartada esta hipótese, da oposição ter arquitetado um plano desta magnitude.

Cheguei a imaginar o Acre fosse envolto numa redoma de vidro, para que pudesse ser objeto de estudo, já que um estado que não produz uma única ruela, poderia crescer quatro pontos acima do País. Realmente tinha algo errado, mas acreditar nessa possibilidade seria um sacrilégio, os números e milhões investidos no Estado desmentiam qualquer notícia que pudesse ser vinculada nos órgãos de comunicação local.

Se não fosse a intervenção da equipe do Globo Repórter, jamais os acreanos saberiam da realidade do Acre. A reportagem até de certo ponto fraca, mostrou a realidade do Vale do Juruá, onde o governo do PT e o prefeito do PMDB brigam para mostrar quem faz mais pela população ribeirinha e pelos índios, mas que tudo mostrado nas peças publicitárias mão passa de propaganda política.

A equipe de médicos, [todos do Sul do País] percorreu algumas aldeias e comunidades, e por onde passou ficou evidente que o modelo ecologicamente correto do Acre, ainda precisa ser aperfeiçoado, levado a uma condição mais humana, e menos captadora de recursos. Os índios e comunidades tradicionais são usados apenas em portfólios e projetos, que visam atrair investimentos internacionais.

A miséria em todos os seus aspectos foi vista por todos os acreanos e brasileiros. A falta de atendimento médico especializado foi o principal ponto da reportagem. Uma simples picada de cobra pode causar uma morte, na segunda maior cidade do Acre.

Outro ponto que chamou a atenção foi à habitação. Os médicos percorreram um bairro inteiro construído num charco, onde as pessoas andam por trapiches, vivendo em condições subumanas, longe da ficção das belas fotos apresentadas em eventos internacionais.

O Acre dos sonhos, ou melhor, o Acre que embala os sonhos de alguns, não é bem o paraíso, que os estrangeiros imaginam, mas só foi revelado, graças à intervenção de uma equipe de jornalistas da Rede Globo. Estes com certeza tem qualidade, já que sem mordaças conseguem mostrar com imagens e fatos, o que nem mesmo os acreanos conheciam.

*Ray Melo é jornalista e escreve para a coluna Realidade do site Oriobranco.net

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